sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Fotografia por: Diane Arbus

No livro "O Elogio da Loucura" de Erasmo de Rotterdam, tal estimado filósofo inicia "seus"
relatos com a seguinte frase "se não tens quem te elogies, elogie-te a ti mesmo" e a partir daí a Loucura assume a narrativa do livro e relata sua visão a respeito de alguns temas.
Sendo assim, inicio então meus escritos com uma frase nele inspirada "se não tens quem te abraces, abraça-te a ti mesmo". É engraçado despir-se por alguns minutos de toda rotina e confusão cotidiana e simplesmente retirar-se do meio que diariamente te engole, tornar-se voyeur de sua própria existência por apenas um humilde momento. Notei em uma dessas aventuras, brincando com a externalização e introspecção que muito nos foge aos olhos,
não notamos ao passar rapidamente por coisas supostamente banais o quão fantástico é aquilo tudo ao ser observado com atenção, talvez isso não seja novidade para muitos, porém, quero ir além da percepção comum das coisas, algo talvez como deixar de existir por alguns segundos para refletir a respeito de sua própria existência. Dizem sempre que ao repararmos nas situações de forma ocular, podemos entender melhor o que ali se passa, exatamente esse o ponto.
Abraçamos ao passar dos anos cada vez mais causas e responsabilidades, nossa rotineira passagem pela terra se torna dia após dia algo mais cheio de detalhes e peculiaridades, agora indago, qual o propósito aplicado ao fato de simplesmente passar por cima disso tudo e nem ao menos regozijar um ínfimo aspecto de deslumbre.
Retorno então ao ato de abraçar. Abraços vem, abraços vão, dizem sempre que o que sobra é a solidão, ou como diria Pablo Neruda:

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais..."

Pergunto a vocês senhores e senhoras de boa índole, de bom coração e de prestígio,
Pergunto também a vocês, joãos e marias, aos sem moral, aos sem prestígio:
Até quando devemos negligenciar nossa própria existência e nossos princípios ?
Por quanto tempo talvez teremos que esperar para suprir tão humildes anseios e talvez tão ousadas
ambições? E não pergunto isso aos acomodados, a esses não dirijo a palavra.

Uma vida que se vai.. um abraço partido,
que partiu sem nem ao menos dizer:
bye bye.

Um comentário:

Gusti disse...

Vc escreve muito bem! Esse olhar introspectivo eu aprendi com a meditação principalmente. Depois de uma olhada: http://www.vagamundagem.com/como-passei-10-dias-em-silencio-em-um-monasterio-budista-na-tailandia/