terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Acendo um cigarro.

Muita coisa acontece nos segundos que intercalam um trago e outro.
Pensamentos vêm e vão, o ponteiro do relógio se atropela e se embriaga de caos
no decorrer monótono de sua jornada cíclica. A contagem do tempo se torna algo
que não se pode negligenciar.As cinzas devem ser postas no cinzeiro em períodos uniformes,
tudo passa a ser muito metódico e calculado, até mesmo a respiração apreensiva que anseia
pela repetição do ato físico de tragar. Ops, o cigarro caiu, perdi alguns segundos ao mergulhar meu braço
em direção ao chão. No seu cair ele deixa marcas, queimaduras, espalha seus dejetos por onde passa.
Minhas mãos não respeitam o galgar dos ponteiros... Mais cinzas... Menos tempo... Menos palavras...
Preciso adiantar logo o texto, pois, em breve nada disso existirá mais.
A fumaça se esvai e deixa o ambiente com uma névoa densa, não consigo se quer, ver o que
se esconde no olhar da imagem que me encara pelo espelho.
Os últimos tragos começam a queimar, vem junto disso a sensação que está prestes a se findar aquela fonte
de pseudo prazeres. Penso, repenso, esqueço, desisto... Não! Não posso acender outro... Não agora...
O último trago se apróxima, da mesma forma como a última linha, como o último segundo.
Caiu denovo, um dedo quase queimado, um último trago quase desperdiçado, entretanto, a fumaça desce
destruindo tudo que no seu caminho se encontra, como um prédio sendo implodido. O fim chega de forma diferente para
ambas as partes.

Apaguei o cigarro.

Um cigarro queima no mesmo compasso que uma vida. Um cigarro apagado, uma vida findada.
Meu cigarro apagou. A vida, a qual acima foi retratada com ele se foi.
E assim tudo continua a seguir seu rumo, a cada minuto vidas indo e vindo
e nós como espectadores de nosso próprio fim.

Um comentário:

Izabel Garcia disse...

imagine viver se deliciando com cada segundo. prestando atenção não no tempo em si, mas sentir ele correndo, absorvendo/aproveitando cada segundo ao maximo.